Entre 2024 e 2025, o mercado global de perfumaria entrou em uma fase clara de reorganização. O fim do ciclo pandêmico, a normalização logística e a retomada da vida social alteraram profundamente a forma como o consumidor escolhe fragrâncias. Nesse cenário, os perfumes franceses voltam a ocupar posição central, especialmente no segmento premium e de assinatura pessoal.
Durante a pandemia, a entrada de produtos europeus — com destaque para França e Alemanha — sofreu retração significativa. Dados da Euromonitor International indicam que, entre 2020 e 2021, o mercado global de fragrâncias encolheu cerca de 7%, com impacto maior nos perfumes importados e de alto valor agregado. A dependência do varejo físico e do canal duty free agravou a queda.
Com a retomada, as marcas francesas encerram o ciclo pandêmico apostando em fragrâncias mais equilibradas, com construções olfativas associadas à sensação de limpeza, conforto e estabilidade. Notas cítricas, florais transparentes, almíscares suaves e madeiras limpas passaram a dominar lançamentos, refletindo um consumidor mais sensível ao excesso e menos tolerante à invasão sensorial.
Segundo Flávia Klein, especialista em perfumaria e leitura de tendências olfativas, esse movimento marca o fechamento simbólico de uma etapa. “As fragrâncias leves não surgiram por acaso. Elas respondem a um período de retração emocional coletiva. Agora, o mercado começa a transitar para propostas mais complexas, mas ainda controladas”, afirma.

Por que os perfumes árabes cresceram justamente nesse intervalo
Enquanto a perfumaria francesa adotava contenção, os perfumes árabes avançaram com força. O crescimento desse segmento se explica por uma lógica oposta: fragrâncias intensas, de alta concentração e longa fixação, com notas como oud, âmbar, resinas, especiarias e baunilhas densas.
Relatórios da Statista mostram que o mercado de fragrâncias no Oriente Médio cresceu acima de 8% ao ano entre 2021 e 2024, impulsionado por identidade cultural forte, fórmulas concentradas (Extrait e Eau de Parfum Intense) e uma comunicação baseada em presença e assinatura marcante.
Durante a pandemia, o consumo se deslocou para ambientes privados. Perfumes passaram a ser usados como experiência individual, não social. Nesse contexto, fragrâncias de maior projeção e duração ganharam espaço. A perfumaria árabe ocupou um vazio deixado pelas marcas europeias em retração logística e comunicacional.
Para Flávia Klein, trata-se de ciclos complementares. “A perfumaria árabe ofereceu intensidade num mundo silencioso. A francesa retorna agora com equilíbrio para um mundo que voltou a circular”, resume.
França segue líder, mas o consumidor evita marcas excessivamente massificadas
Em 2024, o mercado global de fragrâncias movimentou cerca de US$ 55 bilhões, segundo a Statista, com crescimento médio anual projetado de 5% até 2028. A França permanece como maior exportadora mundial, respondendo por aproximadamente 30% das exportações globais. Em 2023, o país superou € 8 bilhões em vendas externas de perfumes e cosméticos.
Apesar disso, o consumidor de alto padrão demonstra saturação com marcas excessivamente popularizadas. Chanel segue relevante, mas enfrenta um público que busca diferenciação, identidade olfativa e menor previsibilidade. Isso impulsiona tanto marcas niche quanto casas tradicionais que conseguem se reposicionar sem perder sofisticação.
No Brasil, maior mercado consumidor de perfumes em volume, segundo a Abihpec, esse comportamento também aparece. O ticket médio de fragrâncias importadas cresce desde 2022, especialmente em grandes centros urbanos, com foco em perfumes de assinatura e linhas menos óbvias.

10 perfumes e casas de luxo conhecidas para quem não quer comprar Chanel
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Dolce & Gabbana – Devotion
Fragrância lançada em 2023, baseada em flor de laranjeira, baunilha e notas gourmand controladas. Tornou-se um dos maiores sucessos recentes da marca, com forte apelo comercial no Brasil e na Europa. -
Dolce & Gabbana – Linha Dolce (Dolce, Dolce Garden, Dolce Lily, Dolce Violet)
Linha voltada ao frescor, uso cotidiano e identidade mediterrânea, com desempenho consistente no segmento premium acessível. -
Mugler – Angel
Lançado em 1992, é um dos perfumes mais influentes da história moderna. Introduziu o gourmand no mercado de luxo e segue entre os mais vendidos globalmente, segundo rankings da LVMH e da L’Oréal Luxe. -
Dior – J’adore
Floral clássico lançado em 1999, permanece como um dos perfumes femininos mais vendidos do mundo, com forte presença em mercados europeu, asiático e latino-americano. -
Yves Saint Laurent – Libre
Combinação de lavanda e flor de laranjeira, posicionada entre frescor e estrutura intensa. Tornou-se um dos carros-chefe da YSL Beauty após 2019. -
Lancôme – La Vie Est Belle
Um dos perfumes mais comercializados da última década. Perfil adocicado, alta fixação e forte reconhecimento de público, especialmente no Brasil. -
Giorgio Armani – Sí (linha Sí)
Fragrância de assinatura moderna, com boa aceitação entre consumidoras que buscam elegância sem projeção excessiva. -
Givenchy – L’Interdit
Releitura contemporânea de um clássico da maison, com apelo jovem e alta presença no varejo internacional. -
Carolina Herrera – Good Girl
Um dos perfumes mais vendidos do mundo desde 2016, com forte reconhecimento visual e desempenho comercial consistente. -
Paco Rabanne – Lady Million
Fragrância amplamente conhecida, com alto volume de vendas globais e presença consolidada em mercados emergentes.
Um mercado guiado por identidade, não por hype
O pós-pandemia não eliminou tendências, mas reorganizou prioridades. A perfumaria francesa encerra o ciclo da neutralidade extrema e prepara o consumidor para propostas mais elaboradas. A perfumaria árabe consolida seu espaço como linguagem de presença e duração. Entre esses polos, marcas como Dolce & Gabbana ganham relevância ao oferecer fragrâncias que dialogam com vida cotidiana, identidade e elegância sem excesso.